Adoção não querida
Andrea, a adoção é algo que não me interessa. Essa frase caiu feito uma bomba no meu peito frágil. Doeu tanto, que ele nem pode imaginar quanto. Ouvir aquilo da pessoa que você ama e com quem você está construindo uma família dói, faz mal, magoa e machuca.
Não somos um casal com problemas de reprodução, GAD, e não precisamos fazer uso de nenhuma técnica reprodutiva para termos nossa filha biológica. Não passamos por nenhuma fase estressante e angustiante de tentativas para engravidar, seja em laboratório, seja pelo método tradicional. Não estamos a anos tentando, sofrendo e desgastando nossa vida conjugal à espera do filho esperado. Somos um casal, eu gostaria de dizer banal – mas aí, lembro dos muitos que estão a anos sem conseguir – que transou, engravidou e deu sequência à gravidez com saúde, tendo o prêmio esperado no final, a flha querida.
A adoção sempre esteve em meus pensamentos, de menina, de mulher e agora, de mãe biológica. Sinto um desejo, dentro de mim, de abrigar mais uma criança em meu peito, sem que ela tenha vindo necessariamente de meu ventre. Quero dar a outra metade do amor que preenche meu coração de mãe a uma criança, ou a outras. Sinto esse desejo a tempos, e o sinto tão forte em mim, que chego até a visualizar esse momento.
Sei de todas as implicações psicológicas que uma atitude dessa implica na vida de uma família, de um casal, na cabecinha de um filho “biológico”, mas acho que deve-se pensar (muito) mais nas implicações disso na vida desse serzinho que está agora, em algum abrigo, sem pai nem mãe, sozinho no mundo, querendo e esperando por um afago, um carinho e o amor de uma mãe, de uma irmã, de uma família. Imagine só a alegria que nós traríamos para a vida dele, e ele, para a nossa!
Mas, a tal frase, proferida por meu querido marido, jogou-me um balde de água fria. Por hora, parei de tocar no assunto, mas não desisti. Guardarei o projeto de vida na gaveta mais uns dias, e voltarei a falar com ele.